Viajando com crianças. Parte V – A alegria

Cena 6 – um disco voador pousou e um ET menino entrou em minha casa

Um disco voador pousou no gramado em frente ao meu apartamento. Dele emanavam ondas de energia com minúsculas partículas de luz, um espetáculo lindo. Eu e meu marido, junto com meus pais e irmãos, assistíamos a tudo da janela da cozinha. Logo, havia uma porção de gente no local, inclusive pipoqueiro, sorveteiro e repórteres. De repente, duas luzinhas daquelas pousaram no chão e se transformaram em dois ETs, como os que aparecem em filmes (com a cabeça branca grande e dois olhos grandes). Usavam roupa de astronauta.

Uma dessas luzes entrou pela nossa janela, pousando devagar. Todos correram para a sala, exceto eu e meu marido. A luz se transformou também em um ET. Percebi que a cabeça e os grandes olhos eram apenas um capacete, e o ET na verdade tinha a aparência de um lindo menino loiro, de mais ou menos 7 anos. Comecei a lhe fazer várias perguntas e descobri que ele era um adulto. Estava muito assustado com tudo aquilo.

De repente, todos começaram a gritar na sala e a bater na porta para saber o que estava acontecendo. Ele se assustou mais e começou a chorar. Eu o abracei e disse que não tivesse medo, que não iríamos deixar nada de ruim acontecer. Então sugeri que fôssemos continuar a conversa em seu disco. Ele concordou.

Imagem: digitalFRANCE/Flickr

Estávamos nos preparando para desmaterializar quando meu marido deixou o casaco do ET cair no gramado. Eu fiquei com medo que aquilo chamasse a atenção e sugeri que os dois fossem na frente enquanto eu recuperaria o casaco. Eles foram e eu desci pelas escadas. Minha mãe foi atrás. Quando chegamos no térreo, tinham acabado de construir uma parede fechando a saída. Pensava que tinha que atravessar a parede, uma vez que precisava fazer a mesma coisa para chegar ao disco. A falta de fé era tanta que acabei desistindo. Minha mãe dizia que não havia mistério algum e mostrava como fazer. Mas eu dava a volta.

Isso aconteceu de verdade. Nos meus sonhos.

E também na vida real.

Quando viajei com meu primogênito, na época com 11 meses, foram sete dias em que ele não chorou nenhuma vez. Claro, antes que ele sentisse qualquer coisa, eu já tinha me antecipado a todas as necessidades. Fome? Leite quentinho, papinha pronta. Cansaço? Banheira com água morna, roupinha escolhida, tudo já preparado. Eu me transformei em uma espécie de “ministra do bem-estar”, com cada hora do dia devidamente planejada nos mínimos detalhes.

É verdade, ele nem precisou chorar. Todo mundo ficou admirado: “que coisa linda, não dá um pingo de trabalho.” Como assim? E, por que, ao fim da viagem, eu estava exausta?

Ora essa, porque eu não tinha “subido ao disco”. Enquanto meu filho e meu marido partilhavam juntos a mesma experiência e a mesma energia, eu estava na retaguarda, “pegando o casaco”, cuidando da parte burocrática e não aproveitando nada. E, exatamente como no sonho, ninguém entende como uma coisa simples pode ser vista como complicada.

Hoje eu continuo preocupada com o casaco, mas me permito subir ao disco. Seguem alguns pré-requisitos, já fazendo uma síntese do que tratamos nos outros posts da série:

  1. Ter planejamento e organização;
  2. Contar com possibilidades adversas e já arquitetar o plano B (e o C e o D);
  3. Internalizar e racionalizar o trabalho – foco no AGORA;
  4. Dar-se tempo. Como eu começo a relaxar só a partir do 3º dia, nunca planejo férias com as crianças com menos de sete dias (até porque a mala de higiene é idêntica para um dia e para sete, não vale a pena);
  5. Reconfigurar seu conceito anterior de “férias”.

Mais dicas da Libby Purves, autora do livro “Como NÃO ser uma mãe perfeita” (São Paulo: Publifolha, 2003):

  1. “O segredo, para quem tem filhos pequenos, é reduzir as expectativas em relação às atividades adultas. […] O esforço de tentar fazer uma atividade de adultos tendo junto crianças pequenas raramente vale a pena. Já me veio à cabeça que uma coisa que os pais nunca devem fazer é embarcar, com seus filhos pequenos, no tipo de excursão que lhes dava enorme prazer quando estavam sozinhos.
  2. Quem tem dois ou mais filhos abaixo dos 5 anos precisa tirar proveito de cada pequeno prazer.”

Quando você se entrega, experimenta um prazer diferente nas suas férias. É quando o momento começa a se parecer com as fotos dos anúncios dos resorts. Nossos álbuns de férias não são realmente muito diferentes. A gente só gosta de registrar os momentos felizes, não é? 

Mas, aos poucos, vai descobrindo que as melhores fotos, MESMO, não são as posadas. As poses não são naturais, saem aqueles sorrisinhos armados, congelados. As mais deliciosas histórias de viagem são repletas de tragicomédias, coisas engraçadas. E as melhores fotos captam o instante, a brincadeira, o inesperado.

Essas fotos podem até não refletir o que aconteceu na maior parte do tempo. Mas vão traduzir o que de fato importa. Aquilo que, com toda a certeza, é inesquecível.

E aí? Preparou-se para subir no disco e explorar o fantástico universo que só as crianças podem proporcionar?

Foto: The Scarer/Stock Xchng

Veja também:

Viajando com crianças. Parte I – A mala

Viajando com crianças. Parte II – As contradições

Viajando com crianças. Parte III – O clubinho

Viajando com crianças. Parte IV – Os senões

Toda a série Viajando com crianças

4 pensamentos sobre “Viajando com crianças. Parte V – A alegria

  1. Marusia,
    Adorei viajar, sorrir, me emocionar e até sonhar junto com você! Refletindo, me veio outra dica para lembrarmos sempre: podemos pedir ajuda! Observo que nem sempre as pessoas percebem a necessidade da mãe (aquela que olha por todos!); mas se nos expressarmos, podemos compartilhar com nossos queridos esse lindo dom: cuidar. E também podemos usufruir (nem que seja um pouquinho) da graça de receber. Afinal, como as mamas merecem!
    bijus!

    • Oi, Dri!
      Mais que uma prova de humildade, é uma prova de sabedoria! Sem contar que podemos dar a outras pessoas a oportunidade de servir! Mágico, não?
      Um beijo!
      Marusia

  2. Marusia só tenho que agradecer a vc. Estava meio receosa em fazer a primeira viagem de avião com meus filhos de 03 e 06 anos e depois de ler todos os seus posts eu fiquei bemmmm mais tranquila. Obrigada

    • Olá, Tatiana,
      Quando recebi seu comentário, aproveitei para reler a coleção de posts. Meus filhos já cresceram um tantinho, mas sabe que foi ótimo relembrar?
      Beijos e muitas viagens excelentes para a família!
      Marusia

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